De Repente Advogada
O título soa um pouco estranho, mas gostaria de compartilhar com vocês algumas experiências sobre uma situação muito comum: cair de paraquedas na advocacia por simples falta de opção ou enquanto não passa num concurso público.
Escolher uma faculdade é muito difícil, ainda mais nesta época da vida em que há tantas incertezas. Depois de algum tempo, vem a escolha pela faculdade de Direito e então abrem-se outras tantas opções de profissões: juiz (que pode ser federal, estadual, do trabalho), promotor de justiça (também federal estadual ou do trabalho), procurador do estado, da união ou do município, professor universitário, analista jurídico, assessor nas mais diversas esferas governamentais e dentro do Judiciário…. a lista é imensa!
Por fim e não menos importante, temos a profissão de advogado. Novamente abrem-se dezenas de áreas de atuação que vão desde a tradicional advocacia empresarial, trabalhista, cível, ou então a polêmica especialidade do direito penal e eleitoral, isso para citar aquelas que mais tenho contato.
Apesar de a faculdade ser a mesma para todas essas profissões, na maioria das vezes começamos a faculdade com uma ideia e terminamos com algo totalmente diferente na cabeça. É o meu caso. Comecei a faculdade crente que eu queria ser juíza, talvez por influência dos meus pais que sempre sonharam em ter uma filha juíza (acho que isso acontece muito não é?).
Essa ideia começou a mudar quando tomei contato com a realidade da vida dos magistrados, a qual não é nada glamorosa como parece ser. O trabalho é duro, estafante, o sistema é lento, muita cobrança interna e muito desânimo frente à diversas situações que não dependem deles (juízes) e sim da classe política, das leis e do sistema judicial como um todo. Tive uma sensação muito forte de impotência.
Por outro lado, via a vida dos advogados que eu conhecia como algo muito interessante, dinâmica, cheio de novidades, agitação, eles podiam expressar suas opiniões abertamente e as defendiam com veemência, ao contrário dos juízes que precisavam guardar para si mesmos as suas impressões e somente expressa-las em sentenças cravejadas de palavras difíceis.
Resolvi me lançar na advocacia e graças a Deus tive uma das melhores escolas do faça você mesmo: correr atrás de liminar, tomar uma bola nas costas daquela testemunha que mentiu pra você e na frente do juiz conta toda a verdade, levar vários nãos de funcionários mau humorados, lutar por teses que nem você acredita mas que depois dão certo, enfim, uma série de coisas que acontecem da porta para fora dos escritórios de advocacia.
Da porta para dentro, aí meus amigos, a história é bem diferente.
Primeiro, eu não sabia que para advogar tinha que estudar tanto… segundo, essa história de agitação não é lá tão boa quanto parecia, tive a sensação que cada dia iria cair uma bomba no meu colo.
Várias noites sem dormir por causa de prazos e petições complexas, casos que não se encaixavam em nenhuma jurisprudência e troca, muita troca de experiência com os colegas para conseguir delinear algum caminho para alcançar o objetivo do cliente.
Ainda assim, eu tive a certeza de que fizera a escolha certa. Escolhi ser advogada e abandonei o funcionalismo público.
Desde então, me dediquei à amenizar a sensação de incerteza, institui rotinas e “sistemas” de segurança que viabilizassem noites tranquilas de sono (eu não aguentava mais deixar de dormir pensando se o fulano tinha cumprido o prazo ou se a beltrana deu o recado para o cliente).
Também percebi que muitos advogados estão atuando sem que isso tenha sido uma escolha consciente, talvez achando que só pode ser advogado aquela pessoa expansiva, que fala alto e encanta os clientes.
Talvez, muitas pessoas não escolhem a profissão de advogado porque sua personalidade precisa da sensação de segurança, equilíbrio e uma boa dose de previsibilidade.
A rotatividade nos escritórios de advocacia tem muito haver com isso, na minha humilde opinião.
Criar um ambiente interno propício para o bom desenvolvimento do trabalho e das pessoas não é tarefa fácil, mas tudo tem um começo e com bastante perseverança os objetivos são alcançados e tudo vai ficando mais normal.
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Jonas Machado da Silva
Olá Doutora Leidy, muito boa tarde.
Irei entrar nessa árdua tarefa da advocacia, mas acredito não menos prazerosa, em poucos meses, uma vez que me formei e de inicio o diploma permaneceu na gaveta, pois trabalhava em uma empresa privada exercendo um cargo de chefia. Mas tão logo adveio uma rescisão contratual. E, agora fazer o que ?
Tem um ano que estou me aprimorando na ceara trabalhista ao qual pretendo atuar com objetivo de abrir um escritório.
Doutora Leidy, o bom nessa empreitada é conhecer histórias reais como a sua com inicio de muitas dificuldades, porém com um final de muito sucesso.
As vezes passo horas nas redes sociais pesquisando e acabo encontrando relatos como o seu que acabei de encontrar e nos serve de motivação para enfrentar as barreiras que virão por ai.
Parabéns e um forte abraço.
Dr. Jonas
Leidy Benthien Disse :
Boa sorte e mantenha firme seus propósitos, a área trabalhista é muito fértil no Brasil.